Não me levem a mal, mas ando numa fase mais interessada em histórias criadas a várias mãos — especialmente em jogos, séries e filmes — do que narrativas escritas a partir de uma única perspectiva. A ideia de que pessoas criativas volta e meia se fecham em uma sala e, a partir de vários pontos de vista, ideias descartadas e piadas nada a ver, sempre me traz muita alegria e devolve leveza à ideia de criar. Quando participei do processo de de Kukoos: Lost Pets e de outras coisas que estávamos planejando, em 2019-2020, quase todos os meus dias eram assim. Sentar e escrever sozinha era legal, como sempre foi pra mim — mas mostrar para os colegas, trocar ideias, rir e se entusiasmar com o que os outros estavam planejando, isso era ouro.
Óbvio que eu ficava apavorada, a princípio, de compartilhar minhas ideias. Nem sempre eram boas, sagazes ou inteligentes como as de outras pessoas da sala. Mas se teve um momento em que fui encorajada a escrever e perder o medo do ridículo criativo, foi ali, entre lousas brancas cheias de anotações sobre a jornada da heroína ao lado de trocadilhos com pizza, piratas e fenômenos sobrenaturais (não pergunte, jogue).
Ok, perder o medo é um processo. Mas tive bons avanços, ok? Ora bolas.
O processo de criação coletivo funcionou demais pra mim porque tirava um peso dos meus ombros. Não era esperado que fôssemos gênios solitários escrevendo nas infinitas torres de marfim, e sim gente disposta a pensar junto, respeitando e recebendo todas as sugestões como se fossem igualmente valiosas (ou ruins, mas que também rendiam boas risadas). Foi um sopro de ar fresco reconhecer que era possível criar coisas ótimas ao lado de outras pessoas, em vez de cavar em busca da centelha da genialidade sozinha.
Acolher, ouvir e complementar ideias uns dos outros era tão importante quanto tê-las e não ter medo de falar em voz alta. Não era preciso ter apego a uma ideia, porque outras viriam, se mesclariam e mudariam o caminho da coisa. Estávamos em uma expedição pelas melhores ideias possíveis.
Claro que todo processo criativo tem percalços, discordância, o tal do apego e da insegurança que volta e meia vêm assombrar qualquer pessoa criativa. Criar a muitas mãos tem seus próprios desafios, assim como toda atividade feita em grupo, que depende de vários esforços.
Também vale dizer que até os processos de escrita solitários não são completamente individuais. Escritores são lidos por editores, leitores críticos e outros mil profissionais do texto. Eu mesma tenho metas de escrita solitária para 2023, que só dependem de mim para nascer, e nem todas envolvem livros e contos; mas o processo coletivo de contar histórias realmente tem me interessado muito mais.
Acredito que, em 2023, vai ser especialmente importante ouvir e acolher vozes discordantes para as histórias que queremos escrever sobre o Brasil. Estamos em um país dividido, em que narrativas tentaram se sobrepor a outras a partir da violência, do ódio e da mentira. Fazer o caminho inverso, de escuta, reconhecimento e entendimento vai ser incrivelmente exaustivo — mas fundamental para um novo começo.
Que histórias você quer contar em 2023?
Essa é a ÚLTIMA NEWSLETTER DE 2022! Tem tanta coisa acontecendo que, como vocês repararam, mal dei as caras por aqui. Mas queria muito recomendar umas coisinhas.
Você já leu Amanhã, Amanhã e Ainda Outro Amanhã? Leia. Eu preciso parar de ECONOMIZAR esse livro e terminar, mas é oficialmente uma das melhores coisa que li no ano. É LINDO.
Tô bem numa fase ~mitológica (quando não, desde os meus 12 anos de idade???) e terminei o segundo volume de Lore Olympus e já emendei a leitura em Elektra, da Jennifer Saint, mesma autora de Ariadne, que foi publicado aqui no Brasil esse ano. É oficialmente o livro mais bonito da estante, tenho nem roupa pra ler uma coisa dessas.
Ando jogando um monte de coisas no Xbox, com destaque para Potion Craft (que mais vi o mozão jogando do que joguei de fato, mas estou hipnotizada haha), Assassin’s Creed Odyssey (me perdoe Kassandra mozona por ser tão ruim de bater em Ciclope), Hades (meu amor de sempre), Kentucky Route Zero (por indicação do queridão João Erre) e PENTIMENT. Que coisinha bonitinha é Pentiment!!!!
Um ano novo muito feliz e cheio de histórias pra vocês! E saúde, gente, saúde sempre. TACA SAÚDE AÍ. Obrigada por me acompanharem aqui <3
Eu acho muito importante destacar isso que mesmo livros assinados por uma pessoa só dependem de muita gente lendo, opinando e ajudando a escrever. Compreender isso tira um pouco a insegurança que a gente tem de nunca achar que o que a gente escreve está a altura dos livros que a gente lê.
Pentiment é o meu "pare de ensaiar e TERMINE ESSE JOGO"