Pois é, pessoal, sumi. Setembro foi tão atípico que só passei um fim de semana em São Paulo, onde moro. Visitei outros estados, conheci uma fazenda linda com cavalinhos comedores do cabelo, nadei com peixes coloridos e me reenergizei o suficiente pra ter muita história pra contar e, assim espero, alimentar essa newsletter por bastante tempo. E olha que a loucura ainda não acabou — esse fim de semana embarco para Porto Alegre para a maravilhosa Odisseia Fantástica, onde vou participar de uma mesa com pessoas lindas do universo literário. Venham nos ver!
Mas a viagem que realmente alugou um triplex na minha cabeça esse mês — seja pela preparação, as dezoito horas dentro de um avião (nove na ida, nove na volta) e os planos que fiz por lá — foi minha ida para o México a trabalho. Teve apresentação em inglês para um time latinoamericano (gracias a diós etc.), aventura, macarena, mas acima de tudo, teve LUCHADORES.
Sempre sonhei em ir na lucha libre, mas não tinha certeza do que me esperava quando entrei na Arena México completamente rodeada por música alta, máscaras loucas, bonecos temáticos, anúncios de antiinflamatório em telas gigantes e cores cores CORES explodindo de tudo quanto é canto. Não tem como ser blasé num cenário desses, por mais que eu me esforce (não me esforço). Tudo é emocionante, apaixonado, visceral. Infelizmente, as fotos que tirei por lá não fazem jus à teatralidade, à solenidade de entrar nesse templo do kitsch; uma delas chega perto. Mas antes, um contexto.
Às sextas-feiras, cinco apresentações acontecem na Arena, em times ou solo. As primeiras a se apresentarem são as luchadoras, que inclusive entregam DEMAIS — de puxão de cabelo a xingar a mãe, praticamente tudo é permitido — e depois vêm as celebridades. Entre eles, um dos meus favoritos da noite, o Místico, que tem até página na Wikipedia. Quem julgaria uma amiga que trouxe bonequinho, bottons e ímãs dele pro Brasil?? Certamente ninguém.
Cada lucha é uma aula de narrativa e performance, à sua maneira. Tudo é coreografado, mas não tanto, a ponto de deixar os espectadores na dúvida e com muita pena de quem tá apanhando. Mas todo mundo apanha. Todo mundo, muito, o tempo todo.
É comum que os espectadores levem as máscaras de seus luchadores favoritos (vai, Místico!!!) e usem durante a luta, trocando a cada partida. Tem drama, dor, grito, xingamento, quedas espetaculares, saltos congelantes, vilões, mocinhos. E muita frustração quando o queridinho não leva, como foi o caso nesse momento espetacular:
Depois do show, eu e duas amigas nos arremessamos nas lojinhas coloridas e posso dizer que trouxe comigo memorabilia de luchadores pra uma vida inteira, mas também algumas lições preciosas.
Ninguém ali tem medo do ridículo. Sim, é over, é muito over, é além do over virando à esquerda. Seja depois dos golpes mais indignos ou das quedas mais doloridas, luchadoras e luchadoras recolhem os pedacinhos da própria dignidade e seguem em frente até o fim da partida. Em uma das lutas em grupos, fiquei particularmente mexida com um golpe aplicado num luchador fofo de tudo, pro qual estava torcendo muito. Ele foi arremessado pra fora do ringue e ficou ali, pensando na vida, até a hora que sentiu que era parte do show de novo. É um ritmo de brincadeira de criança com teatro kitsch, e tudo combina.
A memória do ringue é celebrada e disseminada. Em todas as lojinhas, você encontra camisetas dedicadas a luchadores desde os anos 1960, com as datas de atuação de cada um deles. Alguns dos mais famosos encerraram suas carreiras em 1980 e são celebrados até hoje, seja nas estampas das camisetas, nas pinturas que colorem a Arena México ou até em cordões de crachás.
Torcer é inevitável — você vai se identificar com algum dos lados. Seja pela narração que introduz os luchadores ao ringue, pelas roupas, performance, os golpes, as coreografias, você vai escolher alguém para amar por aqueles vinte minutos e isso vai ser a coisa mais importante dentro do círculo, do combinado mágico. Eu não sou uma pessoa de lutas — e lembrei disso enquanto me sentava pra assistir a cinco delas em sequência —, mas enquanto estive lá, ri muito, vibrei, gritei e dei até uma miiini choradinha.
No momento em que começa a cansar, a coisa toda acaba. A duração é perfeita, coisa de duas horas ao todo. Eu e minhas amigas estávamos planejando ir embora no momento exato em que a última lucha acabou. Timing é essencial para qualquer experiência, ainda mais quando é tão visceral e exigente dos sentidos. Ao mesmo tempo, sinto que a experiência não se molda pela expectativa dos espectadores ou turistas; é tradicional, é vistosa, é excessiva — e isso é respeitado, amado, lindo.
Pra quem vive com medo de se reconhecer como artista, a lucha libre me deu uns sonoros (e muito bem vindos!) tapas na cara. Ela representa muito mais do que abraçar o ridículo — é reconhecê-lo como uma essência sua. Uma identidade que não se apaga, e sim se relembra e documenta com orgulho.
Sei lá, gente, o México é maneiro demais.
Faz tempo demais que não escrevo, então li, vi e joguei um milhão de coisas nesse período. Não vou elaborar muito, mas recomendo fortemente que vocês esmiucem essas coisinhas maravilhosas:
🐲 “Dragões de Vidro não Podem Nadar”, de Sol Coelho e May Mortari, é um AFAGO NA ALMA com diálogos deliciosos e personagens tinindo (e de GRAÇA na Amazon hoje!);
📖 Estou lendo duas coisas e amando muito: O Menino Bruxa e A Corneta. Sim, os dois tem climas BEM diferentes. Sim, estou feliz com ambos;
🤿 Dave, the Diver é minha pequena obsessão de joguinho quando não estou perto do meu XBox pra, obviamente, continuar minha saga Assassin’s Creed Odyssey.
Muito obrigada por terem me lido até aqui e até a próxima, muito em breve, espero eu! :)
pronto, agora eu TENHO que dar um jeito de ir ao México nos próximos 10 anos. obrigada, Anna 🤣
Estive na Cidade do México em 2018, e uma das experiências mais deliciosas foi assistir às luchas. Cheguei achando tudo muito bobo, mas depois de cinco minutos eu já estava rouca, gritando e xingando um luchador que derrubou o cara que eu tava torcendo hahahah