Quando eu tive a ideia de voltar a ter uma newsletter, eu sabia exatamente sobre o que escrever. Já tinha até um título, algo como a beleza de não ter nascido ontem (olha que conceito, olha a petulância). Era um texto meio reflexivo sobre fazer aniversário1, amadurecer e já não ter mais a desculpa de ser… novata. Estreante. Recém-chegada.
É de fato uma sensação esquisita. Por um lado, sei que não sou mais a estagiária que tinha dor de barriga antes das reuniões de pauta no trabalho, até porque ela era obcecada pelo Johnny Depp em A Janela Secreta e deus sabe como essa fase precisava ir embora. Ao mesmo tempo, não houve nenhum ritual visível, nenhuma linha de chegada não-metafórica que confirmava que, a partir daquele ponto, a vida traria menos oportunidades como aprendiz e mais como alguém que realmente sabe o que está fazendo.
Claro, existem pistas. Uma promoção no trabalho, que muda o jogo corporativo, por exemplo, pode ser vista como um rito de passagem — ainda que tenha mil variantes e condições para acontecer e de forma alguma seja um medidor neutro sobre maturidade ou competência. Mas há outros: ver seus amigos envelhecendo, as relações mudando, ou até ter mais segurança em situações que, no passado, eram apavorantes. Passar por uma pandemia causada por um vírus mortal. Sabe, essas coisas da vida que nos transformam em pessoas diferentes todos os dias, de pouquinho em pouquinho, até que você se dê conta disso.
Então sim, para todos os efeitos, não nasci ontem. Yay...! Suspeito que você também não, então vem cá e vamos nos abraçar de máscara nesse mundo maluco para o qual ninguém estava totalmente preparado.
O problema com esse plano, essa newsletter hipotética, é que meu plano era dizer que é bom chegar a um patamar onde os dilemas se parecem mais com velhos conhecidos, são menos inéditos. Que o entusiasmo jovem (ai meu lumbago) é uma delícia, mas a empolgação madura também tem méritos. Os velhotes aqui são menos impressionáveis e, quando se impressionam, é porque tem algo ali que é mágico e especial. Caramba, que discurso legal.
Só que aí eu decidi planejar a minha carreira de forma concreta ao redor da escrita e da arte.
Vamos combinar que isso é super legal de contar para as pessoas — sim, sim, estou trabalhando em uma não-ficção atualmente, digo eu, com um copo de vinho branco gelado metafórico na mão —, mas se tem uma coisa que dá a sensação de que não tenho a menor ideia do que estou fazendo, é a escrita. E apesar de não ser nova no conceito de escrever, nem em terminar projetos, nem no tema do livro… socorro. Toda hora sinto que alguém puxou a tomada que ligava meu cérebro. O que são palavras? O que foi isso que acabei de ler? Como se escreve coisas?? VOU APAGAR
Ao mesmo tempo, por não ter mais a carteirinha de novata, a ideia de largar tudo para trás e jogar The Sims por 16 horas seguidas para engolir as mágoas não faz mais sentido2. Eu quero colocar esse livro no mundo, pombas, e só depende de mim (e de um ou dois olhares mais incisivos da minha agente; te amo, Gabi).
Um amigão meu disse que os 34 anos são a idade do legado, aquele momento em que a gente resolve parar pra ver o que estamos deixando no mundo, de livros a filhos, do lixo que produzimos ao trabalho ao qual nos dedicamos. Esse amigo é muito bom em frases de impacto, então fiquei impactada por dias e invejosos (corretos) diriam que estou impactada até agora. Talvez essa seja a origem de todo o comichão: entender que meu tempo para tudo o que quero fazer — escrever, fazer arte — não parece mais tão infinito.
Ainda não encontrei uma solução para esse comichão que não fosse fazer a bendita da arte, escrever as porcarias das coisas, deixar a bomba do legado no mundo. Ninguém é obrigado a escrever ou pintar, não tem a Polícia do Roteiro passando na sua rua pra ver se você já terminou aquele manuscrito. Mas se a urgência da arte vem, é o amador que pode deixá-la ir embora, sem peso. O artista precisa tentar.
Tem uma frase de Henry David Thoreau que tem me perseguido nos últimos dias, aquela de ir com confiança em direção aos próprios sonhos, imaginando a vida que você sempre quis. O senhor Thoreau me desculpe, que eu sou gato escaldado e, em 2022, não tá dando pra ir confiantemente pra nenhum lugar — no mínimo, tem que colocar máscara e levar o álcool gel. Mas topo caminhar, hesitante e cuidadosa, a esse destino onde quero chegar. Espero que vocês também cheguem onde quiserem ❤
✨ Ando hypeando
Pelo amor de deus, A Mulher da Casa Abandonada. Se você ainda não ouviu, PARE DE RESISTIR. CHICO FELITTI É DONO DE TODOS NÓS. Vai ouvir, tá acabando.
Eu… vi Thor: Amor e Trovão e gostei. Provavelmente vai ser tema da próxima newsletter. Não me julguem ainda. Eu seu dos problemas! Eu sei! Me deixa!
Estou sofrendo de pré-hype fortíssimo com Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Multiversos, protagonista mais velha, crises existenciais, parece uma delicinha. Se você já viu, me conta?
✨ Dois convites especiais
Esse sábado, termina meu Cineclube Sci-Fi lá no Centro de Pesquisa e Formação do SESC. Ele começou em janeiro de 2020 e, bom, todo mundo sabe o que aconteceu no meio do caminho. Voltamos com força total em abril e vamos encerrar esse ciclo em grande estilo: o filme da vez é Blackula, o Vampiro Negro, de 1972. Na sequência, teremos uma conversa com Anne Quiangala. A sessão começa às 10h e a entrada é gratuita — basta retirar o ingresso na bilheteria. Mais detalhes aqui.
Para quem está no clima de Sandman, tem curso saindo do forno lá no MIS em agosto! ❤ Vamos comemorar o lançamento da série em um curso bem completo sobre Neil Gaiman e sua obra-prima. Aproveita pra maratonar a série junto!
E… temos uma newsletter!
Se você recebeu, quer dizer que eu apertei o botão de Publicar e acho isso um grande avanço. Obrigada por me ler até aqui ❤ Vamos que vamos!
Foi dia 12 de junho, ainda aceito presentes. :)
Veja bem, eu ainda jogo The Sims para afogar as mágoas, mas por menos horas. Sou uma pessoa ocupada.
Eita, Clau! Que conforto foi te ler ao final da quarta-feira. Bons sentimentos pra você e pra quem seguir tua escrita!
Amiga, por favor, não para nunca mais de escrever newsletter? Vou te falar que você me encorajou para tirar uma do papel! hahaha
E quanto ao escrever... sei como se sente. E eu não sou 1/10 do que vc é! hahaha
Arrasou!